A vida nem sempre é justa.
Conhecemos essa retórica desde os tempos mais remotos. Para o brasileiro pobre,
não basta sair todo dia de casa, brigar contra todos os leões da esquina e levar
uma vida digna. Quando um ser bestial decide agir, acho que às vezes nem Deus
consegue intervir por causa da maldade que corroe o coração humano.
Erton Cabral era um jovem pobre
que saiu de Taquara, logo ali, depois do Alto do Moura, para ganhar o mundo. E
estava conseguindo. Sua relação com a arte e a cultura, quando como ator
protagonizou um dos marcos do teatro caruaruense, a peça Amor Em Tempo de
Servidão, parecia ser a porta para que seu espírito de grandeza humana pudesse
ser mais leve e voasse cada vez mais alto. Seu crescimento e seus conhecimentos
eram visíveis e mereceram os melhores elogios dos amigos, dos colegas e de seus
companheiros de universidade. Sua tenacidade e sua obstinação o levariam cada
vez mais longe, mais alto.
Mas, eis que a vida, nem sempre
justa, põe no seu caminho um cretino assassino cruel e, num piscar de olhos, o
coloca longe de nosso convívio com uma violência igualmente cretina e
desmedida.
E nesta lamentável história ainda
existe um capítulo tão vil quanto o seu fim. A presença de alguns
comunicadores, se intitulando radialista e blogueiro, causou profunda
indignação aos artistas de Caruaru, aos estudantes da UFPE e, mais ainda, aos
familiares. A tentativa de exposição da sua vida íntima, como se ela fosse mais
importante que a sua história de vida, expõe também a fragilidade com que
setores da imprensa local tratam como desigual os iguais. Aliás, não é só na
imprensa. Que interesse pode haver em se questionar se a vítima era ou não
homossexual, como fez integrantes da polícia? Por acaso, a alguma outra vítima
de crimes semelhantes é perguntado se ela era heterossexual?
Dignidade é uma moeda cada vez
mais rara. Erton Cabral batalhava para encontrá-la e chegava cada vez mais
perto.
Infelizmente, o ser humano, é entre todos os seres o menos "humano". Acostumou-se no alto da sua hipocrisia a julgar o seu semelhante por cor, por peso, por orientação sexual... E não por aquilo que realmente importa: Caráter. Quando o "Homem" começar a se preocupar com o que realmente é importante na vida, quem sabe, ai sim, todos nós poderemos ser reconhecidos por nossa personalidade e qualidades, e não, por stigmas colocados por uma sociedade hipócrita.
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