sábado, 5 de fevereiro de 2011

A VILA DO FORRÓ VIROU UM MONTE DE NADA

Vila do Forró: A lembrança de muitos virou pó.

A Vila não é mais do Forró. Aliás nem é mais Vila. Virou um amontoado de nada. A força da máquina imperial da prefeitura de Caruaru e da Fundação de Cultura derrubou um dos últimos bastiões da nossa riqueza cultural. Sabem o que será construído lá? Não importa. Poderá ser um novo bodódromo como em Petrolina, uma Praça da Convivência como a de Mossoró ou até mesmo uma daquelas torres de Abu Dhabi. Mas o que será erguido lá no Parque de Eventos Luiz Gonzaga jamais conseguirá apagar da memória do caruaruense a virulência de quem detém o "poder" de desfazer qualquer coisa sem consultar ninguém, sem apresentar projetos para que a sociedade permita que aconteça. A derrubada da Vila do Forró é uma vitória da intolerância, do desrespeito e do vandalismo. Sim, do vandalismo. Ou, se não, que nome dar para quem destroe as coisas que são do coletivo na calada da noite?

Não sou daqueles que se apegam fácil a tolas tradições. Não fui contra a derrubada do muro da Estação Ferroviária porque através dele surgia um novo desaguar do trânsito que a modernidade exige em nossa cidade. O muro da Estação também tinha seu valor cultural, daquele que lembranças formam traços da nossa personalidade cultural mas, convenhamos, sua derrubada nem de longe possui a envergadura da destruição da Vila. E verdade seja dita, sempre critiquei o formato e a localização da Vila. Sempre a imaginei construída noutro local dentro Parque de Eventos, mas como um projeto essencialmente desenvolvido conjuntamente com toda a sociedade, cuja decisão seria soberana. Mas a verdade é que nem a prefeitura, nem a Fundação demonstraram o mínimo respeito aos festejos juninos. O empenho na desfiguração do profissionalismo implantado no início da década de 2000 parece um ácido que corrói o bom senso dos atuais gestores. É como se o São João mais popular da história, entre 2001 e 2008 precisasse ser arrancado da memória dos caruaruenses e atirado longe.

Dois fatos antagônicos ainda me causaram furor. O primeiro foi a ação da Imprensa. Contundente, imparcial, questionadora. Dando mostras que o Jornalismo praticado aqui ainda possui um grau de razão que se sobrepõe aos interesses meramente políticos e empresariais. O segundo (e por demais incômodo) é o completo e devastador silêncio das entidades culturais e empresariais sobre o caso. Ninguém manifestou repúdio à ação e o silêncio de artistas é a prova do medo ou do balcão de negócios em que se transformaram suas relações com o poder público municipal. Também, até onde chega a memória, eram empresários ligados a ACIC e CDL que ocupavam espaços naquele local e nos decepciona muito esse silêncio ensurdecedor.

Por fim, não demorará muito em aparecer os defensores da derrubada da já saudosa Vila, motivados pela política mesquinha em que mergulhou nossa cidade. Defenderão o indefensável. Não espero ouvir nem ler rosários de artigos nos jornais atacando com ironia este fato, como li muitas vezes em anos bem recentes. Tampouco espero que os “ícones culturais” saiam aos quatro cantos da cidade gritando seu descontentamento. Muitos serão mentirosos. Inúmeros desses "ícones" não podem criticar porque grande parte deles apoiaram, votaram e aplaudiram os responsáveis pelo monte de nada em que se transformou a Vila. É a hora deles engolirem seco e orar para que acordem desse pesadelo cultural que estamos vivendo.

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