sexta-feira, 8 de outubro de 2010

EM MATÉRIA SOBRE LULA, REVISTA ÉPOCA CRITICA ALUNOS DA REDE PÚBLICA NA VISITA DE LULA À CARUARU

Em matéria intitulada O Presidente e o Mito, a revista Época traz uma radiografia da Era Lula para as camadas mais pobres. Em trecho da reportagem que você lê abaixo, destaca-se a passagem do presidente por Caruaru, na inauguração do IFET e aborda aspectos negativos do lado messiânico pregado por seus aliados e absorvidos por parte da população.



A exploração do messianismo em torno da figura de Lula é criticada até mesmo dentro do PT. “As campanhas do Lula sempre tiveram cunho emocional, mas isso tem limites. Não podemos criar seguidores do Lula como messias”, diz Jorge Perez. Para ele, seria possível fazer a campanha presidencial de Dilma com base em propostas e discussões estratégicas como a reforma política. “A população tem a consciência do que é o governo. Haveria espaço para trabalhar a razão.”

AULA LULA - Alunos de escolas públicas de Caruaru, no horário da aula. Eles foram levados para ver o presidente inaugurar um Instituto Federal de Tecnologia 

Não foi, porém, o que se viu na última passagem de Lula por Pernambuco. No dia 27 de agosto, durante a inauguração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Caruaru, a 130 quilômetros do Recife, a maior parte da plateia, composta de alunos da rede pública com bandeirinhas do Brasil na mão, funcionários públicos liberados do serviço e moradores da cidade, estava ali para ver o presidente de perto.

– Vim ver o Lula, era a resposta mais comum entre as centenas de pessoas.

Uma delas era o artesão Armando Rodrigues, de 50 anos. “Isso aqui era uma fazenda de família, agora vai ser a escola dos meus netos. Hoje deixei o trabalho para ver o Lula. Vim para ficar com esse dia na memória”, disse. Ao subir ao palco da cerimônia de inauguração, Lula provocou uma onda de empurra-empurra e gritos. Foi o último a falar. Como é de seu estilo, discursou andando pelo palco e recorrendo a histórias e “causos” de seu passado de retirante. “Saí daqui com a barriga grande. Achava que era gordura, mas era verme”, disse. “Não tenho pescoço de tanto levar balde d’água na cabeça. A gente tinha que esperar a água ‘sentar’ para beber, de tanta lama e sujeira de vaca misturada.” Todos gargalhavam – e alternavam o celular entre a função de gravar, fotografar e ligar para os amigos para que ouvissem as piadas do presidente.

Em alguns momentos, Lula fazia pausas e deixava a plateia completar seu raciocínio: “Antes, quando se falava de coisas boas, era só Sul e Sudeste. Quando era coisa ruim...”. E era emendado pelo público: “Era Norte e Nordeste”. Para encerrar o discurso, Lula engrossou a voz e desfiou conselhos para a plateia. “Independência vem com estudo. Porque aprendi uma profissão, fui o primeiro da família a comprar TV, carro e casa”, disse. “A mulher tem que trabalhar para não se submeter ao homem. Quando os Lulinhas da vida chegarem em casa falando grosso, a mulher tem de dizer: ‘Vamos falar baixo aí, direitos iguais’”.

O discurso de Caruaru, segundo o historiador Michel Zaidan, da Universidade Federal de Pernambuco, revela que o lulismo ganhou força porque Lula domina, como poucos, a relação com seu público. “Ele não despreza sua própria história. Quando Lula faz piada, ressalta sua identidade com os eleitores e, ao mesmo tempo, critica aquela realidade que compartilharam.” Para Zaidan, Lula também sabe se colocar como uma espécie de conselheiro paterno. “A população o percebe como um tutor que vai colocar o país na linha, nem que seja com puxão de orelha”, afirma. “Esse é um elemento da falta de maioridade civil da população, e Lula sabe explorar isso.”

FONTE: Revista Época, edição 646, página 60

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